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devotou seus melhores esforços. Nisso, até que teve êxito. Eu mesmo fiz os |
maiores esforços para tornar-me um virtuose da lira. E nisso eu também tive |
êxito. |
— Nas coisas em que aplicamos nossos melhores esforços tivemos êxito. Os |
deuses parecem satisfeitos com que continuemos assim. Agora, finalmente, |
vemos uma luz, brilhante como os raios do sol nascente. Ela nos indica que |
devemos aprender mais para prosperar mais. Com um novo entendimento, |
acharemos caminhos dignos para cumprir nossos desejos. |
— Vamos hoje mesmo à procura de Arkad — insistiu Bansir. — Busquemos |
igualmente outros amigos de infância que não tiveram maior sucesso que nós |
mesmos, para que compartilhem conosco as mesmas lições. |
— Está sempre pensando nos outros, Bansir. E por isso que tem tantos amigos. |
Será como você diz. Pois vamos hoje mesmo e os levemos conosco. |
O Homem Mais Rico da Babilônia |
ERA UMA VEZ, na antiga Babilônia, um homem muito rico chamado Arkad. |
Conhecido em toda parte devido a uma imensa riqueza, tornara-se igualmente |
famoso pela liberalidade. Mostrava-se generoso com os mais necessitados e com |
a família, sendo um homem pródigo em suas próprias despesas. Entretanto, a |
cada dia sua riqueza crescia mais rapidamente do que podia gastá-la. E houve |
alguns amigos da juventude que vieram até ele, dizendo-lhe: |
— Você, Arkad, é mais venturoso do que nós. Você se tornou o homem mais rico |
de toda a Babilonia, enquanto nós lutamos para sobreviver. Pode usar as mais |
finas roupas e degustar as mais requintadas iguarias, enquanto nós devemos nos |
dar por satisfeitos se apenas propiciamos à família uma indumentária decente |
ou a alimentamos da melhor maneira possível. |
“Contudo, alguma vez fomos iguais. Tivemos o mesmo professor, participamos |
das mesmas brincadeiras, e nem nos estudos nem nas brincadeiras você se |
sobressaiu mais do que nós. E nos anos que se seguiram você foi um cidadão tão |
honrado quanto nós. “Tampouco trabalhou mais duro ou mais assiduamente, |
pelo menos até onde sabemos. Por que então deveria o caprichoso destino |
escolhê-lo para gozar de todas as boas coisas da vida e ignorar-nos, a nós que |
igualmente somos merecedores? |
Após o que Arkad protestou com eles, dizendo por sua vez: |
— Se vocês não adquiriram mais do que uma pobre existência desde os tempos |
em que éramos jovens, isso se deve a que não conseguiram aprender ou não |
observaram as leis que governam a acumulação de riqueza. |
“O “voluntarioso Destino” é um deus cheio de malícia que não assegura um bem |
duradouro para ninguém. Ao contrário, ele traz ruína para quase todo homem |
sobre quem faz chover ouro não conquistado. Ele produz os gastadores |
libertinos, que logo dissipam tudo o que recebem e se deixam dominar pelos |
mais extravagantes apetites, que nem sempre podem satisfazer. Outros ainda, a |
quem esse caprichoso deus favorece, tornam-se avarentos e entesouram sua |
riqueza, temendo despender o que têm por saberem que não são capazes de |
repô-lo. São além disso assediados pelo medo de roubo e acabam construindo |
para si mesmos uma vida de necessidades e secreta tristeza. |
“Há provavelmente outros que conseguem dinheiro fácil e o aumentam, sem |
deixar de se sentirem felizes e abastados cidadãos. Mas são tão poucos que só |
sei deles por ouvir dizer. Pensem nessas pessoas que de repente se viram |
herdando uma riqueza e confiram se as coisas não se passam assim.” |
Os amigos admitiram que a respeito dos conhecidos que tinham herdado uma |
fortuna aquelas palavras eram realmente verdadeiras e suplicaram-lhe que |
explicasse a eles como tinha conseguido juntar tantos bens. |
— Ainda em plena juventude — continuou Arkad —, eu olhava em minha volta e |
observava todas aquelas boas coisas capazes de propiciar felicidade e |
contentamento. Percebi então que a riqueza aumentava ainda mais a potência |
delas. |
“A riqueza é um poder. Com a riqueza, muitas coisas se tornam possíveis. |
“Este pode embelezar sua casa com os móveis mais refinados. |
“Aquele pode viajar pêlos mares distantes. |
“Esse outro pode regalar-se com as finas iguarias de terras longínquas. |
“Outro mais pode comprar ornamentos lavrados em ouro ou cravejados de |
pedras preciosas. |